O SOL EXISTE!...

O sol nem sempre brilha mas ... EXISTE!!!... =)

domingo, junho 24, 2007

E porque atrás de um sentido de humor único esconde-se uma pessoa com uma sensibilidade imensa...


"A idade vai comendo a vida.

Vai ratando o futuro, e nós (eles) a verem.

Acorda-se com um dia a menos, e adormece-se com um dia a mais.

O calendário vai-nos mudando o corpo.

Vai-nos empurrando as costas, para a queda ser pequena.

Os velhos sabem de cor o chão.

Como quem sabe que está quase a chegar lá.

Desde que perdi a minha avó, que ganhei o respeito por quem mora no terceiro andar da idade.

Perde-se para ganhar.

E assim foi.

Emociona-me.

Que vida inteira pode ser sentada sozinha, num banco de jardim?

Com a idade, nunca escolhem o meio, sempre o fim do banco.

Em crianças, ter-se-iam sentado na outra ponta?

E deixam-se estar.

Respiram como podem.

Os olhos já não procuram nada.

Já viram tudo.

Vão guardando o passado em rugas, para libertar a cabeça.

Em que pensam?

Na morte?

Os velhos não vivem.

Deixam-se viver.

Os filhos já tem a vida deles, não os querem.

Tem de ir viajar e fazer compras para o jantar.

"O pai tem estado bem? Então vá, um beijinho."

Picaram o ponto, e para eles está feito.

Os novos choram com o corpo todo, gritam e fazem caras de quem sofre.

Os velhos choram só com os olhos, que o resto não se vê.

E assim o fazem, no fim do telefonema.

Ninguém os quer com as doenças cheias de idade.

As mãos da idade cheiram a tudo, com as veias cansadas de mostrar o sangue a toda a gente.

As pernas vão perdendo caminho.

Os braços deixam de abraçar.

O coração começa a falhar, já bateu demais mesmo para quem amou pouco.V

ai-se esquecendo de bater.

E uma noite, sem avisar, desaprende.

Desliga os olhos e atira o corpo para o fim.


Ocupam agora o banco todo.

Do principio ao fim, todo ele é corpo.

E os filhos, cansados de telefonar, resmungam.

Morreram oitenta e dois anos, e nem mais um dia.

A cidade não pára, o mundo não interrompe, nada.

Os filhos enterram vinte anos, e guardam os outros sessenta e dois.

Os últimos vinte davam trabalho e de pouco valiam.

Não tem vagar para os guardar.

Mas de hoje em diante, esses vinte vão acordá-los todos os dias.

Até se deitarem sozinhos no banco que os vai deitar."


Bruno Nogueira



....

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

afinal a comedia nao e tudo na vida...
e preciso saber viver...
e preciso saber respeitar...
e preciso saber dar valor...
e preciso amar...

03 julho, 2007 18:41  

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